O objetivo deste blog é permitir aos navegadores, uma visão mais ampla de um mundo globalizado, onde as distâncias se encurtaram e as fronteiras foram expandidas, as novas mídias e tecnologias passam a fazer parte do cotidiano das pessoas. Assim, a criança e o jovem,considerados “ nativo digital ” , tem muita facilidade em utilizar esses dispositivos
tecnológicos No entanto, ainda há adultos que encontram dificuldades no manuseio desses recursos em seu dia a dia.
Operação deflagrada essa semana pela Polícia
Federal e pelo Ministério Público não mostrou apenas as fraudes em
licitações de prefeituras do interior paulista, mas revelou a ligação
entre o empresário e o atual chefe da Casa Civil do governo de Geraldo
Alckmin, Edson Aparecido; Olívio Scamatti, apontado como chefe do
esquema, manteve contato telefônico com Aparecido em 2010 e fez doações
de R$ 91,6 mil à campanha do tucano em 2006.
A proximidade entre o empresário Olívio
Scamatti e Edson Aparecido, chefe da Casa Civil do governo de Geraldo
Alckmin (PSDB), foi revelada essa semana pela Operação Fratelli da
Polícia Federal. Segundo as investigações, ocorreram fraudes em
licitações de pelo menos 78 prefeituras do interior paulista.
Interceptações telefônicas feitas em 2010 flagraram Aparecido, na
época deputado federal pelo partido de Alckim, fazendo "pedidos" ao
empresário. Uma dessas ligações teria o objetivo de ajudar o aliado José
Jacinto Alves Filho, então prefeito de Auriflama, que precisava mostrar
ao Ministério Público que providências estavam sendo tomadas.
Para isso, era necessário que Scamatti mandasse algumas máquinas para
colocar asfalto para que fossem fotografadas pelos promotores. "Se
abrir processo, a região inteira contamina", disse Aparecido.
Segundo a PF, o chefe da Casa Civil do governo tucano não era o alvo
da operação, mas foi interceptado por manter contato com o empreiteiro. A
polícia também descobriu que a Demop fez doações para a campanha de
Aparecido no valor de R$ 91,6 mil ainda em 2006.
As apurações da PF e do Ministério Público também chegaram ao nome de
Osvaldo Ferreira Filho, chamado de Osvaldinho, assessor que trabalhou
oito anos com Aparecido. Ele chegou, inclusive, a representar o então
deputado estadual em reuniões políticas ainda no início dos anos 2000.
Ele é uma das 13 pessoas presas em São José do Rio Preto.
O empresário também foi preso e é acusado de chefiar o esquema de corrupção e desvio de dinheiro público.
Na versão do chefe da Casa Civil do governo de Geraldo Alckmin, o
empreiteiro "nunca solicitou nada que indicasse qualquer
irregularidade", mas reconheceu, em entrevista ao Estado de São Paulo,
que manteve contato próximo com Scamatti. Ainda segundo Edson Aparecido,
as doações para sua campanha "foram registradas", e afirma que confia
na "inocência" do ex-assessor.
Editorial do jornal da família Marinho do dia 2 de
abril de 1964 celebrou a tomada de poder pelos militares de um governo
democraticamente eleito, o de João Goulart; títulos anunciam: "Fugiu
Goulart e a democracia está sendo restabelecida" e "Ressurge a
Democracia!"; leia o texto
1 de Abril de 2013 às 09:50
Um dia depois do golpe militar, o
editorial do jornal O Globo, da família Marinho, celebrou a tomada de
poder de um governo democrático para um regime ditatorial. O texto,
publicado em 2 de abril de 1964, celebra o "ressurgimento da democracia"
e anuncia que João Goulart, o presidente que teve seu posto tomada
pelos militares, "fugiu". Para o jornal, as Forças Armadas foram dignas
de "heroísmo" e a elas devemos nossa "gratidão". Leia abaixo o
posicionamento, relembrado pelo Blogg do Amaral Nato.
"Ressurge a Democracia"
Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os
patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou
opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a
democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças
Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos
que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do
Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários
à sua vocação e tradições.
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia
ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da
desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio
das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.
Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação
existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande
destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as
liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser
usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos
estava a levar à anarquia e ao comunismo.
Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos,
enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios
públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.
Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros
devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus
inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao
dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a
garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a
sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um
daqueles poderes, o Executivo.
As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, "são instituições
permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a
autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI."
No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou
a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra,
saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser
considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições
indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares.
Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube,
vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.
Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso,
impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada
pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de
restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo
fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o
Executivo Federal.
Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os
setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava
o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres
líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito
redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no
Brasil que estava em jogo.
A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de
nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da
palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do
Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra
qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais,
objetive o bem do povo e o progresso do País.
Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com
os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão,
como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes
devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as
medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e
harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela
Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores
sofrimentos e luto.
Jornalista da Record Luiz Carlos Azenha anunciou
fim do blog após ser condenado a indenizar em R$ 30 mil o diretor da
Globo Ali Kamel; evento está marcado para a próxima terça-feira, em São
Paulo, e propõe, além de coleta de dinheiro para saldar a dívida,
acionar parlamentares para a denúncia de perseguição da Globo à
blogosfera
31 de Março de 2013 às 11:47
247, com Rede Brasil Atual
- Um movimento surgido neste sábado 30 nas redes sociais está
convocando uma reunião em defesa do Blog Viomundo para as 17h de
terça-feira (2) na sede do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão
de Itararé – rua Rego Freitas, 454, 1º andar, República, Centro de São
Paulo.
Na sexta-feira (29) à noite, após tomar conhecimento de que perdera
uma ação judicial movida por Ali Kamel, diretor da Central Globo de
Jornalismo, o jornalista Luiz Carlos Azenha, responsável pelo Viomundo, anunciou o fim do blog.
Azenha argumenta que não tem como pagar os R$ 30 mil impostos pela
sentença, mais os gastos que terá com advogados para recorrer em outras
instâncias, e, ao mesmo tempo, manter o blog.
O ato propõe:
1 - acionar parlamentares para a denúncia da perseguição da Globo à blogosfera;
2 - campanha via internet de coleta da grana para saldar a multa de R$ 30 mil;
3 - atos na Globo contra a censura e em defesa da liberdade de expressão. 26/4 - aniversário da emissora;
4 - acionar relator da ONU para liberdade de expressão para denunciar censura da TV Globo
Certas questões na história da humanidade são de tamanha
complexidade que mesmo o passar dos séculos não é suficiente para criar
culturalmente um consenso a respeito. A homosexualidade é uma delas.
No livro Born to be Gay, o autor William Naphy mostra que
nem sempre os homossexuais foram vistos de forma discriminatória. Muitas
culturas antigas aceitavam e pregavam as relações entre pessoas do
mesmo sexo, fosse como ritual de entrada na adolescência ou com funções
associadas ao culto.
Muitos autores são unânimes em afirmar que somente com a
ascensão do judeo-cristianismo iniciou-se a marginalização da
homossexualidade. Ou seja, se fizermos um corte transversal no tempo e
espaço de nossa civilização veremos que um comportamento visto como
absolutamente natural passou a ser considerado “pecado” e qualificado
de crime passível de morte, em muitas nações.
A literatura a respeito não é coisa apenas da modernidade.
O romano Suetônio escreveu em seu As Vidas dos Doze Césares, livro do
século 2, sobre os hábitos dos governantes do fim da República e do
começo do Império Romano. Dos 12, só um deles, Cláudio, nunca teve
relações homossexuais. O mais famoso, Júlio César (100-44 a.C.), teve um
relacionamento com o rei Nicomedes.
O conquistador Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), também
foi conquistado. Seu amante era Hefastião, seu braço direito e ocupante
de um importante posto no Exército. Quando ele morreu de febre, na volta
de uma campanha na Índia, Alexandre caiu em desespero: ficou sem comer e
beber por vários dias. Mandou proporcionar a seu amado um funeral
majestoso: os preparativos foram tantos que a cerimônia só pôde ser
realizada seis meses depois da morte. Alexandre fez questão de dirigir a
carruagem fúnebre, decretando luto oficial no reino.
Sobre o homossexualismo feminino existem muitos poucos
registros até o século XVIII mas o historiador romano Plutarco dizia, já
no século I, que na cidade grega de Esparta todas as melhores mulheres
amavam garotas.
O que tinham em comum pessoas nascidas em épocas tão
distintas como o filósofo Sócrates (469 a 399 a.C), o imperador Nero
(37-68 d.C.), o artista e inventor Leonardo da Vinci (1452-1519), a
rainha da França Maria Antonieta (1755-1793), o dramaturgo Oscar Wilde
(1854-1900), os cantores Cazuza (1958-1990) e Cássia Eller (1962-2001),
dentre tantas outras personalidades do mundo das artes, da ciência, da
filosofia? Costumavam manter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo.
Wilde, por exemplo, condenado por sodomia a dois anos de trabalhos
forçados na prisão, ai definhou, morrendo logo após sair.
Estariam todos eles errados? Quem somos nós para proferir
julgamentos? Apenas agiam de acordo com seu coração e com suas crenças
de que cada um tem o direito de escolher o que é melhor para si. Mas na
vida em sociedade é necessário obedecer a leis e convenções. Portanto,
precisamos analisar, discutir e nos posicionar.
O mundo está repleto de bons e maus exemplos. Um relatório
da ILGA, divulgado em Genebra em 2012, revelou que 78 países do mundo
consideram o homossexualismo como orientação sexual ilegal, e que apenas
11 permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo ( Portugal,
Espanha, Holanda, Bélgica, Suécia, Noruega, Dinamarca, Islândia, Canadá,
Argentina e África do Sul.
A Europa é a região onde os direitos dos homossexuais são mais atendidos e a pior situação se dá no Irã, Arábia Saudita, Iêmen, Mauritânia e Sudão onde a homossexualidade é punida com a morte, o que ocorre também em algumas regiões do norte da Nigéria e do sul da Somália. Na Ásia metade dos países criminaliza a homossexualidade e em Bangladesh, por exemplo, é punida com prisão perpétua.
No nosso continente, o maior problema é a violência contra
homossexuais. A maioria dos países não tem legislação proibindo a
homofobia, mas mesmo em países como Argentina, Colômbia e Uruguai que já
aprovaram legislações contra a homofobia, muitos casos de desrespeito e
crimes contra estas pessoas continuam ocorrendo à luz do dia. Na
Rússia, os índices são alarmantes. Cerca de 45% dos russos dizem ter
emoções negativas ao lidar com homossexuais.
A exceção africana no reconhecimento dos direitos da
comunidade gay é da África do Sul, onde desde 1996 existe o direito de
união, em um continente onde a homossexualidade é proibida em cerca de
30 países e punida com a prisão na maioria deles.
Nos EUA, a discussão chegou à Suprema Corte este mês e
pegou alguns ministros despreparados. Eles questionaram se não teria
sido melhor deixar os estados continuarem a testar soluções para a
questão separadamente. Nove dos estados americanos já aceitam legalmente
a união gay e somente na Califórnia cerca de 40 mil crianças vivem com
pais homossexuais.
O presidente Barack Obama,
defensor da causa, reiterou seu apoio no último dia 23 por meio de uma
conta no Twitter administrada em seu nome pelo 'Organizing for Action',
um grupo de pressão fundado após sua reeleição. "Cada americano deveria
poder se casar com a pessoa que ama", dizia a página no Twitter, com a
hashtag "#LoveIsLove".
No Brasil, país com expressiva população homossexual,
cerca de 24 milhões de pessoas, responsáveis pelo consumo de 150 bilhões
de reais ano, a legalização do casamento gay em tramitação no congresso
ainda não é uma realidade mas algumas conquistas importantes
aconteceram nos últimos anos, dentre elas, a permissão de que um par
homossexual pleiteie a adoção conjunta de uma criança, por
jurisprudência firmada em casos tramitados junto ao STF.
Acredito que a sexualidade humana seja produto de
condições históricas específicas e que o sentido de gênero é
principalmente construído e não determinado biologicamente. A expressão
da sexualidade é influenciada pela tradição, cultura, economia,
princípios éticos, ou seja, tudo o que se pode chamar de estrutura
político-social de uma sociedade.
O surgimento de grupos
organizados de homossexuais no Brasil e no mundo foi significativo para a
busca por respeito e direitos iguais. O comportamento da sociedade de
uma forma geral, no entanto, ainda revela que existe muito caminho a
percorrer para eliminar a homossexualidade da lista das palavras
proibidas. É necessário tolerância com as diferenças. Devemos todos
meditar a respeito.
Pesquisa sobre cotas para negros revela um país atento e decidido
EDUARDO GUIMARÃES
Chega a ser surpreendente que 64% dos
brasileiros apoiem uma política pública que foi tão demonizada e que a
mídia até hoje impede que seja defendida equitativamente
No começo, fizeram-se as trevas. Um obscurantismo democrático só
comparável ao da ditadura militar se abateu sobre a sociedade brasileira
em forma de tentativa dos seus setores mais abastados de imporem a
todos uma adesão incondicional à manutenção de privilégios injustos a um
seu setor literalmente microscópico.
Apesar de a política pública (mal chamada) de cotas "raciais" ter
surgido em universidades estaduais do Rio de Janeiro alguns anos antes, o
que desencadeou uma interminável cruzada midiática contra si foi a lei
federal 4.876/2003, instituída ao fim do primeiro ano do governo Lula.
A elite étnica, econômica e regional que sempre mandou e demandou no
país começou a ver, ali, o embrião do que seria aquele governo, ou seja,
um governo que, pela primeira vez na história, ergueria dezenas de
milhões da pobreza em que haviam sido esquecidos e os tornaria parte de
uma nova "classe média" que, em poucos anos, abrigaria a maioria deste
povo.
O Brasil, então, em um mundo em que há cerca de duas centenas de
nações ocupava desonrosa posição entre os cinco mais socialmente
injustos, perdendo em injustiça social e concentração de renda somente
para países miseráveis da África e da América Latina.
Desde a redemocratização, obtida por fadiga de material após duas
décadas de uma ditadura militar em que a desigualdade econômica, étnica e
regional se aprofundara como nunca antes, tal herança de exclusão
social que conflagrara o país e o colocara em virtual guerra civil não
refluíra praticamente nada.
A partir de 2003, porém, essa "herança maldita" começaria a ser combatida.
Um dos fatores que, em poucos anos, criaria uma nova "classe média",
por estranho que pareça em um país com Educação ainda tão frágil foi
justamente o acesso dos mais pobres ao ensino. E, sobretudo, ao ensino
universitário, até então reservado, quase que exclusivamente, aos
brancos de classe média e alta do Sul e do Sudeste.
Fazer faculdade, no Brasil, em maioria estatística avassaladora era
coisa para filhos de famílias de classes média ou alta, de ascendência
indo-europeia e brancas do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Paraná, de
Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, e olhem lá.
Negros e mestiços de negros com outras etnias, em nova maioria
estatística avassaladora estavam condenados a jamais concluírem de fato
os estudos, o que significava nunca chegar ao ensino superior.
O que ocorria no Brasil é que os impostos da maioria pobre – que, à
diferença da micro minoria extremamente abastada, não tem como sonegar
porque paga imposto embutido nos produtos de consumo básico –
financiavam os estudos de ricaços em universidades públicas e gratuitas.
Aos pobres – sobretudo aos negros do Norte e do Nordeste, onde são
maioria esmagadora – não havia opção alguma para chegarem às
universidades estaduais e federais, pois as instituições tinham provas
duríssimas de ingresso para as quais não conseguiam se preparar tendo
estudado em escolas públicas nas quais o ensino veio piorando a passos
largos ao longo do século passado.
Além disso, negros, pobres e nordestinos ou nortistas não conseguiam
adquirir bens culturais de que os brancos de classe média ou alta do Sul
e do Sudeste dispunham à farta, tais como viagens, livros, cinema,
teatro etc.
Vale explicar que os negros, pobres, nordestinos ou nortistas
alijados do ensino superior não residiam apenas em suas regiões natais,
mas muito no Sul e no Sudeste, para onde seus pais e avós haviam
emigrado em meados do século XX em busca de uma vida melhor.
O vestibular tradicional, desde sempre, mantivera uma massa étnica,
econômica e geográfica fora do ensino superior e uma minoria com essas
características opostas dentro dele, pois não havia como jovens tão
pobres, em contingente minimamente aceitável, disputarem com outros
jovens tão favorecidos pela sorte.
Cavalgando, então, um autoengano hipócrita e conveniente sob todos os
aspectos, essa elite que reservara cotas de cem por cento para si nas
universidades atribuía sua vantagem nos vestibulares ao que chamava de
mérito, mas que não passava de sorte de ter nascido em uma família com
recursos financeiros e com a etnia "certa".
Nos meios sociais mais elitistas (nos quais, é bom que se diga, este
que escreve cresceu), o que era dito, a boca pequena, faria o próprio
Hitler corar de vergonha: os negros não chegavam ao ensino superior em
contingente condizente com sua representação no conjunto da sociedade
porque eram intelectualmente inferiores.
Nunca me canso de contar essa história: certa vez, em uma festa em um
bairro dito "nobre" de São Paulo, ao discutir a política de cotas com
racistas empedernidos anotando que com ela, em poucos anos, surgiriam
médicos negros – uma raridade no Brasil –, ouvi de algumas daquelas
pessoas que "jamais se tratariam com um negro".
Eis que a política do governo Lula, inspirada em legislação inclusiva
criada nos Estados Unidos na década de 1960, começaria a reverter esse
quadro, fazendo com que os negros e mestiços chegassem a 2011, oito anos
depois da lei federal 4.876/2003, ocupando mais do que o triplo das
vagas nas universidades que conseguiam até 2003.
Estava ameaçada a hegemonia branca, de classe média e alta e do Sul e
do Sudeste no ensino superior. O instrumento que servira,
historicamente, para perpetuar as desigualdades sociais mastodônticas de
que padece o Brasil agora corria o risco de ser anulado, pois o fator
financeiro deixava de ser preponderante para garantir acesso ao ensino
superior público, sabidamente o de maior qualidade.
Além disso, para os eleitos pela sorte que não gostavam tanto dos
estudos havia as universidades particulares, menos concorridas, mas,
ainda assim, exclusivas para a elite, pois custavam caro.
Para essa questão do ensino superior privado, o governo federal criou
o Prouni, que financiaria estudantes que não conseguissem chegar à
universidade pública mesmo com cotas "raciais", mas essa é outra
história. Aqui se fala das cotas para negros.
Ameaçada a hegemonia branca no ensino superior, mecanismos
multibilionários foram acionados para matar, no nascedouro, uma política
pública que, acima de qualquer outra, tinha capacidade para pôr fim
àquela hegemonia ao menos no longo prazo. A comunicação social foi usada
para esse fim.
De 2003 em diante, jornais, televisões, revistas, livros, filmes e,
acima de tudo, um discurso social opressor foram usados para triturar a
ideia de cotas "raciais". Não existia, na grande mídia, espaço para
contestação. Criou-se, então, um discurso que invertia os fatos: as
cotas que beneficiavam jovens negros e pobres seriam "racistas" (!?).
Um dos primeiros discursos que se levantou foi o do "prejuízo
acadêmico". A tese era muito simples: os estudantes negros que estariam
sendo beneficiados não teriam capacidade para frequentar uma
universidade "de elite" e, assim, rebaixariam a produção acadêmica e a
qualidade dos formandos.
Com o passar dos anos, a tese se mostraria uma falácia. Nunca se
conseguiu detectar o tal "prejuízo acadêmico". Muito pelo contrário.
Além de desistirem muito menos dos cursos nos quais ingressavam, os
negros pobres se equipararam ou até superaram as notas dos brancos
ricos.
Apesar do discurso massacrante contra as cotas "raciais", porém,
mostrou-se surpreendente o entendimento da sociedade de que corrigiam
uma situação infame sob todos os aspectos.
Poucas pesquisas de opinião foram feitas para aferir a reação da
sociedade ao discurso sobre o caráter supostamente "racista" ou
depressor qualitativo das cotas para negros. As poucas que foram feitas,
foram abafadas. Agora, porém, após anos sem investigarem oficialmente a
questão, surge uma nova pesquisa sobre o tema.
Pesquisa Ibope feita para o jornal O Estado de São Paulo entre os
dias 17 e 21 de janeiro de 2013 revelou que quase dois em cada três
brasileiros (62% da população) são a favor dos três tipos de cotas em
universidades públicas – étnicas, econômicas e para egressos da escola
pública.
O apoio a cotas para negros, porém, é maior que o apoio aos três
tipos de cotas. Enquanto 62% querem todas as cotas, 64% querem cotas só
para negros. Os que aceitam que só existam cotas por critérios
financeiros ou de origem escolar, porém, superam todos os grupos,
atingindo 77%.
Isso, porém, não significa que esses 77% sejam todos contra as cotas
"raciais". A diferença para os 64% que exigem cotas para negros mas
aceita se forem só para pobres ou egressos da escola pública é de
escassos 13 pontos percentuais.
Ser exclusivamente contra qualquer tipo de cota, porém, é o ponto
mais interessante. São Pessoas que ainda acreditam na balela de um
"mérito" que tem cor da pele, região do país e nível de renda e que
congrega míseros 16% da população.
E note-se que, apesar de amplamente minoritária, essa é a posição que
predominou na mídia e entre partidos políticos de oposição durante
muito tempo.
Aos poucos, porém, pesquisas não oficiais – ou seja, que não foram
divulgadas – foram revelando a partidos como PSDB, DEM, PPS e PSOL e até
à mídia (todos, inicialmente, contrários a cotas "raciais") que, se
continuassem sendo contra qualquer tipo de cota, mergulhariam em um
isolamento ainda maior.
Um dos efeitos disso foi a adoção recentíssima pelo governo tucano de
São Paulo de uma política canhestra de cotas que impõe mais tempo de
estudo pré-universitário a jovens negros e pobres para supostaente
poderem chegar "ao nível" dos brancos ricos, o que as outras
experiências com a política afirmativa mostraram ser desnecessário.
O fato é que o tsunami comunicacional que se abateu sobre o país
tentando convencê-lo de que seria "racista" uma política pública que
combateria a situação absurda de um país de maioria negra (segundo o
IBGE) praticamente não ter negros no ensino superior, fracassou
fragorosamente.
Chega a ser surpreendente que 64% dos brasileiros apoiem uma política
pública que foi tão demonizada e que a mídia até hoje impede que seja
defendida equitativamente. Significa que esse contingente esmagador da
sociedade teve contato com a tese da elite "racial" e a considerou uma
falácia.
O país que a recente pesquisa Ibope revela é um país muito diferente
daquele que é apresentado como sendo o Brasil, um país de alienados que
não entendem os mecanismos que foram usados para criar tanta injustiça
social.
O Brasil, pois, mostra-se muito atento a políticas contra a
desigualdade e, eleição após eleição, deixa ver que está decidido a
votar em causa própria, ou seja, em políticos e partidos que, por atos e
ações, reconhecem que há um sistema de exclusão social erigido para
manter a secular iniquidade brasileira.